domingo, 29 de maio de 2011

A polémica dos foguetes (4): “Mais parecem panos de lavar o chão que bandeiras para honrar Nossa Senhora”

A carta do presidente da Junta de Freguesia da Serra do Bouro/representante dos investidores no empreendimento turístico do Plano de Pormenor da Estrada Atlântica, de que transcrevemos excertos, teve réplica de Mário Rocha. Que destaca um elemento essencial: talvez fosse preferível investir nas bandeiras que estão, de facto, em muito mau estado. “Mais parecem panos de lavar o chão que bandeiras para honrar Nossa Senhora”, escreve.
Eis alguns excertos (a troca de correspondência está, na íntegra, disponível aqui):
1 - “Temos o direito de manifestar o nosso desagrado por este ou qualquer outro assunto. Compreendo que se sinta 'curioso' em relação à nossa postura, pois o habitual é as pessoas aceitarem tudo, mesmo que não concordem porque viver em rebanho é mais fácil que manifestar pontos de vista diferentes, defender a nossa honra e respeitar a lei. “
2 - “Não pretendemos mudar hábitos e tradições e vou repetir para que fique bem claro, não sou contra os hábitos e tradições. Sou, sim e serei sempre, contra o facto de não se aplicarem as regras e as medidas de segurança existentes no lançamento dos foguetes, facto que qualquer cidadão ciente e cumpridor põe em causa e que o senhor na qualidade de presidente da Junta e de advogado deveria também pôr e zelar para que as mesmas se cumprissem na íntegra.”
3 - Se, em vez de estoirarem tanto foguete que até prejudica o ambiente natural em que estamos inseridos em termos de fauna por causa do ruído e investissem em bandeirinhas novas, decerto que estariam a contribuir em termos visuais para a beleza deste local, tal como merece. Talvez as bandeiras não façam assim tanta falta e aí a tradição não seja um factor relevante, até porque as bandeiras não representam nenhum perigo nem incomodam rigorosamente ninguém. A verdade é, que quem passa pela Serra e que não seja da terra, como as visitas os turistas e futuros investidores, é-lhes transmitido pobreza, desleixo e falta de respeito pela tradição, pois as bandeiras mais parecem panos de lavar o chão que bandeiras para honrarem a N. Senhora.”
4 - “Esta freguesia que é portuguesa, também mudou. As pessoas de cá já não andam de burro, andam de carro; já não contam histórias à volta da fogueira, vêem telenovelas (altamente instrutivas!) ; já não usam métodos rudimentares na agricultura, adoptaram métodos modernos e mais produtivos; já não se mantém casados por hábito ou tradição, também se divorciam; as casas já não são como eram com o básico e o essencial, rasteiras e simples, são imponentes e luxuosas; já nem usam o escudo, tem que se contentar com o euro, já não vivem à luz da vela, nem vão buscar água ao poço; controlam a natalidade, não é hábito ter-se filhos como se tinham e esses filhos já não cumprem a tradição de serem agricultores como os seus pais e antepassados, de não serem analfabetos embora, infelizmente ainda hoje se cumpra este hábito nalgumas situações, ……podíamos continuar, mas decerto que já compreendeu a nossa mensagem. Só falta mesmo dizer que até já se prevê um campo de golfe, num local onde é hábito e tradicional jogar-se às cartas e ao jogo da malha! Assim as 'aldeias tradicionais' tornam-se iguais às metrópoles, pois golfe nada tem a haver com a tradição portuguesa muito menos com a desta cá da terra.”
5 - “Já vivi em muitos locais, e cito alguns: a minha aldeia, Moimenta no Concelho de Vinhais, em Vinhais, no Cacém, em Mem Martins, em Bruxelas, em cidades com pessoas de todas as cores, credos, pátrias, apátridas, regionalistas, etc, etc como vê tenho um vasto curriculum, mas, juro, nunca, mas mesmo nunca, me senti tão discriminado como aqui.”
6 - “Não há falta de sítios nesta freguesia onde se pudessem lançar foguetes sem incomodar quem se sente ameaçado pelos resultados que daí possam acontecer. As regras de segurança existem por alguma razão. As regras fazem-se para serem cumpridas e para haver alguma segurança em relação a situações que possam provocar desgraças, sendo possível praticarem-se actividades de risco com alguma segurança.”

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