1 - Os pormenores do “Plano de Pormenor da Estrada Atlântica” encontram-se todos aqui, indicação importante dada pela edição de ontem da “Gazeta das Caldas”.
2 - Segundo a notícia da “Gazeta”, são 275 hectares na zona de serra que fica delimitada pela Estrada Atlântica, pela Variante Atlântica e pelas povoações de Espinheira, Zambujeiro e Cabeço da Vela. Haverá um campo de golfe, um hotel de cinco estrelas com 120 quartos e moradias e apartamentos turísticos que, no total, terão 3553 camas.
3 - O custo do empreendimento está previsto em 300 milhões de euros. Deverão ser criados 380 postos de trabalho directos e 750 indirectos. Não haverá construção (é campo de golfe, claro...) em 58 por cento da área total. O empreendimento deverá estar concluído em dez anos.
4 - Os investidores são as empresas Claremont Costa de Prata Developments Lda e a New World Investments (Portugal) – Sociedade de Administração de Imóveis, SA. Quem as representa e elaborou o projecto é a Plural – Planeamento Urbano, Regional e de Transportes, Lda. As duas primeiras têm escritórios nas Caldas e parecem ser empresas de investimento, apenas. As suas verdadeiras sedes devem ser noutro local. Quanto à Plural (com site aqui) tem muitas câmaras e outras entidades públicas como clientes e parece ser uma empresa de dimensão apreciável mas, estranhamente, não indica quem é a sua “equipa” ou quem dirige a empresa. Esta empresa sem rosto tem sede numa moradia de Carcavelos.
5 - A Câmara Municipal das Caldas da Rainha apresenta no seu site uma série de documentos relacionados com o projecto (que está em consulta pública até ao final deste mês). Os dois mais interessantes são, no entanto, os que mostram o empreendimento sobre o Google Earth e, por eles, já se fica com uma ideia da dimensão da coisa: são as “Plantas de Implantação” 01.1 e 01.2.
6 - A dimensão é, aliás, o que primeiro impressiona. E percebe-se, por estes documentos, que o empreendimento vai mudar radicalmente toda a face da zona de campo e de serra que existe actualmente junto à Estrada Atlântica. A dúvida é essencial: as construções vão ficar integradas no que restará da paisagem ou vamos ver construções monumentais à distância, tipo Algarve?
7 - A importância económica do empreendimento, para a região, pode ser apreciável. Mas também aqui se levanta uma dúvida: o que existe, de comércio, serviços e restauração, será efectivamente necessário aos hóspedes abonados do empreendimento? Ou bastar-se-á o empreendimento a si próprio, nessa matéria?
8 - Dando de barato que teremos uma afluência de milhares de pessoas vindas não se sabe de onde, o concelho conseguirá ter oferta turística, em todas as vertentes turísticas, para estes visitantes? Monumentos? Praias? Percursos? Restauração? Recordações históricas? Ou assistirá a uma debandada destes visitantes para Óbidos, que tem uma maior capacidade de atracção? Ou quererá ser tipo Algarve?
9 - E quem são esses visitantes?Quais são os potenciais clientes deste empreendimento? Em que países está a ser promovido? Vêm de avião e deslocam-se cem quilómetros para aqui quando têm Óbidos a oitenta quilómetros do aeroporto?
10 - O concelho está preparado, a outro nível, para suportar um empreendimento destes? A degradada rede pública de água e saneamento aguentará o esforço? E a rede eléctrica? A pedreira que existe perto do local vai conviver sem problemas com os visitantes de cinco estrelas?
11 - Com este empreendimento vai desaparecer a maior mancha florestal que até agora existia no concelho e que tem uma fauna muito própria. É certo que o desleixo de câmara e juntas de freguesia deixou que muitos locais desse pequeno santuário se transformassem em lixeiras. Mas, apesar disso, os animais iam sobrevivendo. Agora já não é certo.
12 - Os caçadores perdem um dos seus locais de massacre preferidos. Esta é a única vantagem que de imediato se percebe.
13 - E as povoações vizinhas vão aguentar o impacto de uma coisa destas? A própria Foz do Arelho e, pelo menos, as povoações de Zambujeiro, Espinheira e Cabeço da Vela arriscam-se a ficar sepultadas pelo gigantismo do empreendimento.
14 - E não sucederá que a aprovação deste empreendimento vá abrir a porta à aprovação de muitos outros projectos e de construções desenfreadas e descontroladas?
15 - E os seus construtores conseguirão assegurar a concretização do projecto do princípio ao fim? Ou ficará um elefante branco, monstruoso, para memória futura? É natural que o campo de golfe e o hotel nasçam primeiro e que as moradias para turistas só apareçam depois, à medida que houver compradores. Mas numa época de crise e longe de locais de reconhecida atracção turística, isto terá êxito?
16 - Perto da Variante Atlântica já existia, há vários anos, uma zona semi-urbanizada que se percebe ser parte deste projecto. Oficialmente, ele existe desde 2006 mas desde 2002 que se fala nele. A ausência de nomes e de rostos e o secretismo em que tudo se desenvolveu não augura nada de bom, sobretudo quando se verifica o empenhamento entusiástico dos actuais presidentes da Câmara e das juntas de freguesia envolvidas (Foz do Arelho e Serra do Bouro). Um projecto desta dimensão precisava de ser transparente. Não o é, no entanto.
sábado, 12 de março de 2011
16 notas sobre o Plano de Pormenor da Estrada Atlântica e o projectado complexo turístico
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário