terça-feira, 16 de agosto de 2011

Falésia: a "culpa" é das vítimas mas a responsabilidade é do Estado

Reparem bem como o caixote do lixo (da "competência" da junta de freguesia ou da câmara) está dentro da zona considerada perigosa. O que diz isto às pessoas? (© "Jornal de Notícias"/Carla Pereira/Global Imagens)
Depois do Algarve no ano passado (onde situação idêntica matou cinco pessoas), foi ontem a vez de seis pessoas ficarem feridas na praia de São Bernardino (em Peniche) quando caíram pedras de uma das 150 falésias perigosas recenseadas em toda a costa portuguesa.
O discurso oficial, da autarquia local ao Instituto da Água passando pelos jornais ("Acidente na praia podia ter tido consequências mais graves - Peniche: banhistas ignoraram sinais de perigo"), alinhou pelo mesmo tipo de imbecilidade: a culpa nestes casos é sempre das vítimas.
O problema é que se a "culpa" é das vítimas - mortas, feridas, estropiadas ou assustadas -, a responsabilidade é das autoridades locais e centrais, é das autarquias, do Governo e da miríade de entidades que gerem as costas e não sei quantos pares de botas.
Os sinais, colocados uma vez e paulatinamente degradados ao longo dos anos (é ver a falésia perigosa de estimação que existe mesmo ao lado do miradouro da Estrada Atlântica, com um sinal velhinho e inútil) e sem qualquer outro tipo de impedimento, não substituem aquilo que é obrigação do Estado e que também é pago pelos nossos impostos: assegurar obras públicas de consolidação de terras que são de uso e propriedade pública. E com urgência, obviamente!
O pomposo vice-presidente de uma câmara municipal (Peniche?) que ouvi ontem num dos telejornais (a atribuir às vítimas a responsabilidade do desastre sem uma única palavra de simpatia para com elas!), devia ser acorrentado debaixo de uma das dessas falésias à espera do próximo movimento de terras...

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