A greve é uma das formas de luta clássicas, com uma génese muito simples... quando tudo era simples. O patrão, que é proprietário da fábrica, só ganha dinheiro quando a fábrica produz. Se os operários não trabalharem, a produção fica interrompida e o patrão não ganha dinheiro. A greve geral é uma aplicação desta lógica a uma escala nacional: todas as fábricas, todos os serviços, todas as empresas têm os seus trabalhadores em greve.
Isto pressupõe, no entanto, que a estrutura económica da sociedade não tenha sofrido alterações. Que de um lado estão os trabalhadores, por definição pobres, e, do outro lado, os patrões. Que só há trabalhadores assalariados desses mesmos patrões.
A greve geral decretada pela CGTP (contra “a burguesia”, como disse Carvalho da Silva num arroubo troglodita) e pela UGT parte destes mesmos pressupostos. E, por isso, só em parte é correcta.
Uma greve geral, na situação actual da economia portuguesa, é um protesto redutor porque deixa de fora muitos sectores que não se enquadram nem nos trabalhadores assalariados nem nos patrões proprietários de fábricas ou de outros meios de produção.
Os proprietários/patrões das micro e pequenas empresas, os empresários em nome individual e os recibos-verdes enquadram-se em que categoria na dicotomia sindical? Na “burguesia” negregada? Nos patrões? Nos trabalhadores? Vítimas, e não é pouco, desta crise e das medidas terroristas impostas para compensar as asneiras do PS e do seu Sócrates, protestam como? Fazendo greve e não trabalhando? Mas isso só os afecta a eles próprios!
E os reformados? E os desempregados? E os que procuram emprego? Como é que poderão protestar?
Cercadas por uma muralha de lugares comuns e de preconceitos ideológicos (tal como o sisudo PCP, o folclórico Bloco de Esquerda e a atrapalhada ala esquerda do PS), as organizações sindicais combatem-se a elas próprias e ao povo que dizem defender quando se metem em becos sem saída deste género.
Talvez fosse preferível, mesmo que cumulativamente, pensar num apagão nacional, num fechar de luzes colectivo durante quinze minutos, que pusesse o país todo às escuras, no negrume do luto, num protesto realmente grandioso contra este miserável governo. Custaria menos, notar-se-ia mais e seria muito mais abrangente.
domingo, 14 de novembro de 2010
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