domingo, 30 de outubro de 2011

Linha do Oeste: enterre-se o cadáver e canalizem-se as energias para coisas agora mais importantes

A Linha do Oeste começou a morrer há vários anos quando Cavaco Silva, como primeiro-ministro, preferiu a expansão das auto-estradas à consolidação e desenvolvimento das vias férreas. Outros também o fizeram.
Nessa altura como agora, só há uma explicação para isso: Cavaco Silva, como Guterres e Sócrates, percebeu que compensava politicamente beneficiar as grandes empresas de obras públicas com empreendimentos faraónicos, garantindo o apoio dos grandes interesses económicos. Até poderia ter sido acertado, tendo em atenção a criação de empregos que isso também possibilita.
E talvez não viesse daí mal ao mundo se, ao mesmo tempo, se investisse com racionalidade no transporte ferroviário. O que aconteceu, no entanto, foi o desinvestimento e o desinteresse. Num desequilíbrio idiota: o Estado multiplicou empresas, estudos e projectos... e prejuízos. Mas foi deixando morrer as linhas.
A abertura da A8 foi o golpe de misericórdia. Se para a ligação, em pequenos percursos, entre as localidades secundárias e Caldas da Rainha, a Linha do Oeste é útil, a ligação de "longo curso" com Lisboa e com o resto do País através da A8 tornou-a inútil.
Ninguém - a não ser que tenha muito tempo e predilecções especiais por comboios - preferirá, por exemplo, uma ligação lenta e desconfortável de duas horas entre Caldas da Rainha e uma estação secundaríssima (que não foi concebida como tal) nos arredores de Lisboa quando pode, em viatura própria ou nos autocarros expressos, fazer uma viagem de sessenta minutos para o centro de Lisboa através da A8.
Nas circunstâncias actuais, pode ser muito politicamente correcto e simbolicamente gratificante defender a Linha do Oeste e o transporte ferroviário - como, em certa medida, fez a "Gazeta das Caldas" num "dossier" bem feito - mas conviria que se percebesse que dificilmente o Governo e essas estruturas dirigidas por gestores milionários perdulários vão salvar o transporte ferroviário onde ele já passou a cadáver.
É mais proveitoso e mais vantajoso defender outras coisas - a limpeza público do concelho, na cidade e no interior, o bom funcionamento dos serviços públicos ou o investimento racional no que pode desenvolver turisticamente a região - do que perder tempo com quimeras. E, já agora, defender a responsabilização dos gestores que deitaram tudo a perder e que andaram estes anos todos a esbanjar o dinheiro que não era deles e que agora temos de pagar. E com juros.

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