quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Um concelho emporcalhado

O concelho de Caldas da Rainha está emporcalhado.
E não me refiro à cidade, zona que merece sempre as atenções dos responsáveis públicos porque pouco mais conhecem do que o empedrado urbano e a via rápida para a Foz do Arelho para o "passeio dos tristes" da bica pós-almoço ao fim-de-semana.
Refiro-me ao interior, aos campos, às estradas (e ruas) onde se acumulam colchões, restos de casas demolidas, garrafas de plástico, maços de cigarros amachucados, papéis rasgados, lixo de obras domésticas (não há criatura, do rural mais inculto à mais destacada figura de órgão de soberania, passando pelas várias espécies da elite local, que não deixe ficar na berma da estrada o lixo das obras que faz em casa), cartuchos de balas e latas de conserva dos cacadores e, quando não são crateras atafulhadas com areia e pedras, remendos de alcatrão dos Serviços Municipalizados para tapar as rupturas de uma rede de abastecimento de água completamente podre, além das fitas de plástico que os preguiçosos das BTT vão deixando ficar na vegetação a ver se ninguém repara, das bandeiras nacionais rasgadas e esfiapadas que são um verdadeiro atentado de lesa-Pátria e da draga que está há meses plantada na área pública que é a Lagoa de Óbidos sem um ganido de protesto por parte de quem devia afirmar um mínimo de dignidade pública.
Não se vê, nem ouve, um sobressalto cívico, um escrito nos jornais, uma declaração de político, uma intervenção da Câmara ou das juntas de freguesia para resolver isto.
Aliás, nem admira que não haja quando o vice-presidente da Câmara se manifesta completamente ignorante e desinteressado da praga dos pendões plásticos, indo ao ponto de dizer que nem vale a pena multar os prevaricadores porque depois vão pedir subsídios à Câmara.
Nem ninguém se importa que um miradouro pensado para contemplar uma das coisas boas do concelho (o Oceano Atlântico em toda a sua extensão, com Peniche e as Berlengas ao fundo) seja conquistado por uma rulote de "comes e bebes" que - ao contrário do que ia acontecendo a um músico e a um cão no centro da cidade - não paga um cêntimo pela ocupação (absolutamente selvagem) do espaço público.
Isto tudo é porco, é feio, dá dos caldenses uma imagem suja (gostarão, será?) e é, em tudo, o contrário das eructações pseudo-turísticas dos vários idiotas de serviço que lucram com o Estado, com o sector privado e com a confusão entre as duas partes e as noções mais absurdamente imbecis de promoção de Portugal no estrangeiro.

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